O INGÁ E A CORUJA



Conta a história que uma menina construiu uma casa aconchegante, com janelas, varanda, quintal e uma cerca branca tudo com muito capricho, carinho e dedicação.
Ela quase não tinha tempo de sair para o quintal, pois a casa lhe consumia a maior parte do seu tempo, tempo esse que passava sem ela perceber. Sempre que tinha tempo gostava de debruçar-se sobre a cerca e observar a estrada longa que parecia tocar o céu no encontro com a linha do horizonte.
Dali ela observava atentamente o movimento da estrada antes de ser interrompida por alguma demanda urgente da casa. Enquanto estava ali se divertia, hora ria, hora espantava-se, às vezes ouvia histórias inteiras outras vezes só observava de longe o movimento e tirava suas próprias conclusões. Aquilo tudo lhe parecia uma boa distração.
Num desses dias de distração surgiu um moço na estrada que se aproximando da cerca disse:
- Boa tarde, meu anjo!
A menina ainda distraída com o olhar fixo no horizonte responde:
- Boa tarde!
- Então, que tarde agradável né?!
E a menina agora volta seu olhar ao moço e responde:
- Sim, muito...
Então a fim de esticar um pouco mais a conversa ele diz que está dando umas bandas por aquele lado da estrada e pergunta a menina:
- Você mora aqui?
- Sim
- A quanto tempo?
- Desde sempre...
E se despedem
- Boa tarde!
- Boa tarde!
Alguns dias depois lá estava o moço passando em frente a cerca novamente.
- Boa tarde, meu anjo!
- Boa tarde!
E então do nada ele lhe faz um elogio e depois outro e outro...
Ele diz o quanto gosta do seu perfume, fala que as meninas com tiaras ficam ainda mais bonitas, que aquela cor de roupa que está usando é sua preferida...
Além disso conta-lhe histórias de outras estradas que existem, dizendo-lhe que aquela estrada que ela vê na verdade não toca o céu.
E a menina vai se encantando e se envolvendo com todas aquelas histórias. Agora as demandas da casa podem esperar um pouco, pois não é educado deixar ninguém esperando no portão, ainda mais um moço de olhar iluminado e sorriso lindo como aquele.
A menina agora não mais distraída retoca o batom e com o livro nas  mãos que havia adquirido algumas semanas atrás e já lido, aguardava ansiosamente pela passagem do moço que gentilmente concedeu-lhe o autografo.
Dali em diante houveram muitos risos sobre aquela cerca, muitos abraços fortes, alguns beijos, poesias, uma dança juntinhos e até a composição de uma música.
 E a música foi a última coisa que fizeram juntos.
O moço parti...
A menina então num impulso sem pensar pula acerca branca e corre em direção ao moço que já está no meio do caminho, ele olha para ela e lhe dá um livro com sua última dedicatória.
Sorri e segue seu caminho.
Diz a lenda que a menina sentiu uma dor paralisante, um vazio tão grande que a ao apertar o livro contra o peito se transformou em um Ingá na beira daquela estrada e o moço em uma linda Coruja.
E quem passar por aquela estrada em noite fria e sem luar verá aquela linda Coruja de olhos brilhantes pousada num dos galhos do Ingá pronta para lhe contar mais uma história...




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